terça-feira, 23 de abril de 2019

O PAPEL DE DEUS E O NOSSO PAPEL NA SANTIFICAÇÃO


O PAPEL DE DEUS E O NOSSO PAPEL NA SANTIFICAÇÃO
A santificação imediata e a progressiva

A Bíblia ensina que é Deus quem nos santifica (1Tess. 5.23 / Levitico 20:8/ 21:8). Para isto, ele se vale do processo de nos educar como filhos (Hb 12.5-11). Desejar a santificação e tê-la em nossa vida é obra de Deus (Fp 2.13). Assim ele nos aperfeiçoa cada dia, para fazermos sua vontade e lhe sermos agradáveis (Hb 13.20-21). Esta é a vontade e a obra do Pai.

O Filho conquistou a santificação para nós. É isto que Paulo diz em 1Coríntios 1.30. No processo de santificação, ele é o alvo para o qual devemos caminhar (Hb 12.2). Aqui temos, novamente, o conceito de cristificação. Ser santo significa caminhar sempre na direção de Cristo. Ele é nosso modelo (1Pe 2.21). Ser santo é procurar viver como ele viveu: 1João 2.6.

O Espírito atua em nós para nos transformar e modificar, cada dia. A santificação é obra do Espírito Santo em nós (1Pe 1.12, 2Ts 2.13). É o Espírito quem produz em nós o seu fruto (Gl 5.22), que melhor evidencia nossa santificação. Ser santificado é deixar-se guiar pelo Espírito e andar nele (Gl 5.16-18 e Rm 8.14).

Mas nós temos parte na santificação. Não somos passivos. Nossa parte começa com o fato de que devemos oferecer-nos a Deus para que ela aconteça (Rm 6.13 e 19). O texto de Romanos 12.1-2 vem corroborar isto, lembrando que “corpos” é o grego sôma, que é mais que o corpo físico, designando toda a personalidade da pessoa. A santificação significa dar toda a nossa personalidade a Deus: pensamentos, talentos, jeito de ser, a vida, enfim. Quando deixamos o Espírito agir em nossa vida e mortificamos as obras do corpo, então temos a vida abundante (Rm 8.13). Neste sentido, a santificação é a parte da salvação que nós desenvolvemos (Fp 2.12-13).

A regeneração ou conversão do eleito de Deus, é a primeira grande parte da obra de santificação operada pelo Espírito Santo, porque seria uma coisa inconcebível que o pecador fosse justificado em Cristo Jesus e permanecesse exatamente como dantes, debaixo dos seus antigos pecados. Por isso há um real trabalho de santificação do Espírito Santo no momento mesmo do novo nascimento que transforma o pecador num santo de Deus.
Mas este trabalho de transformação do pecador à imagem e semelhança de Cristo prosseguirá numa segunda obra do Espírito Santo, que não é instantânea como a primeira da regeneração, e que se estenderá por toda a vida do crente, no trabalho progressivo da santificação que começou na regeneração.

E é particularmente a natureza deste segundo trabalho progressivo do Espírito Santo que pretendemos analisar nesta parte do estudo.
Este trabalho da santificação é o complemento do aperfeiçoamento da nova criatura gerada pelo Espírito na regeneração.
E é importante conhecer a natureza deste trabalho do Espírito Santo na santificação progressiva do corpo de Cristo que é a igreja, e particularmente de cada um dos membros que compõem este corpo, para que possamos ser cooperadores na realização deste trabalho, de modo a não ficarmos detidos em nosso progresso por motivo de falsas concepções ou falsos ensinos relativos ao assunto.
Muitos colocam um peso demasiado na responsabilidade do homem neste trabalho, por desconhecerem que a fonte de toda santidade é o próprio Deus, e outros enfatizam a exclusiva operação da graça divina sem o concurso das obras, por confundirem santificação progressiva com justificação e regeneração.

Assim, antes de tudo cabe esclarecer que há atos de Deus na salvação que são exclusivos da Sua graça, sem o concurso das obras, e isto se vê especialmente na eleição que é por pura graça, e também na justificação e na regeneração, sendo que nestas se exige arrependimento, fé e obediência em relação a Cristo e à Palavra, para que instantaneamente se receba a justificação e a regeneração que nos transformam em filhos de Deus e que nos dão o direito de acesso ao céu e sermos livrados da morte eterna, da condenação eterna no inferno, e da escravidão à Lei, a Satanás e ao pecado. Tudo isto é obtido por graça, com o concurso da obediência à Palavra que nos ordena o arrependimento e a fé em Cristo, para que possamos obter tão preciosa salvação, se podemos chamar esta obediência de concurso de nossas obras, porque isto consiste simplesmente no ato de crer e se voltar para Deus, e nos sujeitarmos ao trabalho do Espírito Santo em nossos corações, transformando-nos instantaneamente em novas criaturas.

Agora, há uma ação mais efetiva das nossas obras na santificação progressiva, na recepção das bênçãos de Deus, inclusive aquelas que garantirão os nossos galardões futuros, de modo que além de haver um trabalho da graça nisto tudo que é o elemento motivador da nossa fidelidade, obediência e conseqüentemente de nossas boas obras, há também uma consideração desta nossa fidelidade e obediência a Deus, especialmente aos mandamentos que nos ordena em Sua Palavra, de maneira que sejamos incentivados a permanecer na prática do bem segundo a Sua boa, perfeita e agradável vontade.

Assim, se colocássemos na extremidade de uma gangorra a graça, e na outra a responsabilidade humana, ou nossas boas obras, então esta gangorra estaria desnivelada em muito para o lado da graça, por ser esta infinitamente mais pesada em tudo o que se refere aos atos relativos à salvação, mas a responsabilidade humana estaria exercendo também o seu peso na outra extremidade porque a nossa fidelidade e obediência, em vigilância, perseverança, diligência, com vistas à nossa santificação, também conta e muito neste trabalho progressivo que é realizado pelo Espírito Santo mediante a Palavra de Deus.
Mas é fora de qualquer dúvida, que a inclinação desta gangorra penderia muito mais para o lado da graça, porque por maiores e melhores que sejam as nossas boas obras, elas representam um peso muito menor, diríamos infinitamente menor, do que o da graça, na nossa santificação., de modo que teríamos isto representado graficamente, mais ou menos da seguinte maneira:


Contudo, a par, desta grande diferença de importância que vemos no gráfico, o concurso da nossa diligência, vigilância, perseverança, comunhão, oração, obediência à Palavra, e fidelidade a tudo o mais que se descreve na Bíblia como nossos deveres, é absolutamente essencial para que haja tal crescimento, assim como uma simples pitada de fermento é o que faz crescer toda a massa. Sem o nosso empenho diligente em obediência à vontade de Deus, nenhuma graça será recebida para que este crescimento ocorra.

A natureza desta santificação progressiva pode ser resumida nas palavras do apóstolo Paulo em I Tess 5.23:

“E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tes 5.23).

Paulo proferiu estas palavras depois de ter relacionado na epístola um grande número de deveres particulares dos crentes, indicando que a santificação deles dependeria da sua obediência àqueles mandamentos. E é exposto o motivo desta santificação: estarem preparados para a vinda do Senhor, isto é, o que eles deveriam fazer não seria propriamente para atender à própria vontade e interesse deles, senão aos do Senhor.

Mas este simples versículo, enfatiza que seria o próprio Deus que realizaria este trabalho de santificação completa do espírito, alma e corpo dos crentes de Tessalônica.
A versão Almeida atualizada traz: “vos santifique em tudo”, em vez de “vos santifique completamente”. Mas este “em tudo” ou “completamente”, não se referem às partes citadas posteriormente pelo apóstolo, a saber, corpo, alma e espírito, porque há uma separação de pensamentos pela conjunção “e” (kaí) entre o que foi dito antes quanto o modo da santificação que deve ser completa, total, perfeita, e as áreas da vida em que ela deveria ser operada por Deus, no homem todo: corpo, alma e espírito.
E é importante citar que o pensamento de uma santificação completa é destacado no original grego com o uso da palavra oloteleiv que no grego significa perfeito, completo em todas as suas partes, e esta palavra está ligada ao verbo santificar (agiasai), que se encontra na voz ativa do tempo aoristo, que indica uma ação que não foi completada, e que ainda permanece em progressão. Por exemplo: santificou indica uma ação completa. Mas santificando, indica algo que deve ser feito progressivamente.
E uma outra palavra de significado parecido ao da palavra oloteleiv, é usada pelo apóstolo para dizer quais as partes do corpo, da alma e do espírito deveriam ser assim santificadas completamente. Esta palavra é oloklhron, que significa íntegro, inteiro, quanto a uma purificação sem mancha ou defeito. Então a vontade de Deus para conosco é a de uma santificação completa que atinja todas as áreas da constituição humana, na plenitude de todas as suas partes, tanto interiores quanto exteriores, visíveis, quanto invisíveis, conscientes, quanto inconscientes. O que está em foco nesta santificação é a pessoa toda, e todas as suas faculdades operantes em todas as partes constituintes do seu ser, quer físicas, mentais, espirituais, emocionais, sentimentais. Nada em absoluto poderá ficar de fora deste trabalho do Espírito Santo na reconstrução da nova criatura à imagem de Cristo, até levá-la à plenitude desta imagem, a saber à estatura de varão perfeito, que é a estatura do próprio Cristo, a ponto de se poder dizer: ”já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”.

E esta santificação, apesar de ser um dever para todos os crentes, entretanto não se encontra no próprio poder deles para ser realizada, porque a quase totalidade deste processo, como tudo o mais na salvação é dependente da graça de Deus e do Espírito Santo, daí se dizer “Pai santifica-os” e “Eu sou o Senhor que vos santifica”. (João 17:17/ Levitico 20:8/ 21:8) Este trabalho é basicamente de Deus e não do homem. Apesar de, como vimos antes, ter um grande peso neste processo a pequena e falha parte da participação da responsabilidade humana neste processo, ao lado da perfeita infalível ação da graça divina, porque, como já dissemos antes, se o peso infinitamente maior é da operação da graça de Deus, não obstante, nenhuma graça operará em nós se não houver diligência, vigilância, e perseverança, da nossa parte, nos deveres ordenados pela Palavra, e que são relativos à nossa santificação.
Assim a nossa obediência e fidelidade a Deus, mediante prática da Palavra de Deus é essencial para o recebimento desta graça, sem a qual o trabalho não poderá ser feito. Ninguém se iluda portanto que é possível ser santificado por Deus sem esta diligência nos deveres ordenados na Palavra.

Aqueles que pensam que podem santificar-se a si mesmos sem o concurso de Deus e da Sua graça incorrem numa grande ilusão e erro, e se encontram numa postura orgulhosa que afasta a graça de Deus, e isto é uma afirmação arrogante de que não dependem dEle.
Devemos evitar a todo custo o grande erro do pelagianismo, porque apesar de Pelágio ter declarado que a santidade é de Deus, no entanto, ele, e muitos dos que o seguem na sua maneira prática de ver e agir, fazem todo o trabalho de santificação depender do próprio esforço pessoal deles, à parte de um trabalho da graça, porque não buscam isto por um andar contínuo no Espírito, senão em tentativas de aplicação dos mandamentos da Palavra de Deus segundo o homem natural e não segundo o homem espiritual, criado em Cristo Jesus. Isto é o que gera tantos legalistas na igreja, porque eles se iludem com a sua forma externa de santidade, que não chega a produzir uma verdadeira transformação em suas atitudes e hábitos, porque o trabalho não é feito no coração deles, porque obstruem e impedem totalmente qualquer ação do Espírito Santo neste sentido.
E como poderemos ter nossos pecados perdoados se não confiamos no sangue de Cristo e no trabalho da graça de Deus e do Espírito em nossos corações para termos os pecados perdoados e sermos purificados de toda injustiça, se confiamos que podemos, nós mesmos, purificarmo-nos de nossas transgressões, pelos nossos próprios esforços e méritos? Isto é uma grande afronta a Jesus, ao Seu sacrifício por nós, e a Sua honra como sacerdote, profeta e rei de nossas almas.

Por isso, não é sem motivo que a justificação e santificação são geralmente associadas à paz. Neste texto de I Tes 5.23, a santificação está associada à paz, porque Paulo diz: “o Deus de paz”. Isto porque a santificação produz paz. E não uma paz qualquer, mas a paz que procede de Deus. Condição que é resultante da paz com Ele, em razão deste trabalho de destruir o pecado, que é o que desperta a ira de Deus e que afasta a Sua santa presença de nós. Então uma vez tratado o problema do pecado, através do arrependimento, da confissão, do quebrantamento em Sua presença, e do trabalho de santificação em purificação de nossos corpos, almas e espíritos, então o que se há de experimentar como resultado será a paz com Deus. E esta paz é efetivamente infundida em todas as áreas do nosso ser, de maneira que podemos experimentar o poder real do Senhor em trazer alívio e descanso às nossas almas. E os efeitos desta paz são percebidos e sentidos em nossos próprios corpos e mentes. Deus deixa sempre uma bênção atrás de si quando nos consertamos na Sua presença. Ele cumpre a promessa de sarar a nossa terra quando aplicamos com sinceridade o que Ele nos ensinou em II Crônicas 7.14:

“e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” (II Crônicas 7.14).

Assim, devemos buscar a santificação porque um dos resultados dela é esta paz com Deus e uns com os outros. Se amamos a paz que é fruto do Espírito e se somos chamados a esta paz, devemos então estar conscientes que nunca poderemos ter isto sem santificação. E a igreja depende vitalmente disto, porque sem a paz e sem almejar a paz, não valorizaremos a santificação o tanto quanto ela deve ser valorizada, porque um dos efeitos imediatos dela é esta paz com Deus, porque Ele demonstrará a Sua satisfação em relação a nós, por causa de estarmos atendendo o Seu desejo para conosco, que é afirmado expressamente na Palavra, como sendo a nossa santificação. E o fruto da paz será a comunhão com Deus e com os irmãos, e é a este fruto da santificação na vida que o apóstolo João se refere na sua primeira epístola:

“ Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade; mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.” (I João 1.6,7).

E esta paz é também objetiva quanto a nos livrar da condenação futura, porque ela põe um ponto final na guerra que Deus tinha conosco, por sermos pecadores. E daí se dizer que pela justificação pela fé obtivemos esta paz com Deus por meio de Cristo Jesus (Rom 5.1). Mas esta paz objetiva, como vimos foi devida à justificação. Mas agora dependemos da paz subjetiva que é operada pela nossa santificação. Porque esta trata dos nossos pecados diários e nos habilita a continuarmos mantendo comunhão com Deus.
O Espírito de Deus é chamado de Espírito Santo porque Ele é o autor de toda a santidade em todos aqueles que são feitos dela participantes.

Nosso dever principal neste mundo é, saber o que é ser santo corretamente, e assim realmente ser.
O que não é realmente santo não verá a Deus, e a Bíblia é muito clara e direta quanto a isto. Pois não existe um lugar intermediário para as almas serem aperfeiçoadas depois da morte. Não há purgatório. Há depois da morte somente dois lugares para o destino dos espíritos desencarnados: ou céu ou inferno. Na parábola de Lázaro e o rico Jesus deixou bem claro que aqueles que se encontram no paraíso celestial não podem passar para o inferno, e nem os que se encontram no inferno passarem para o céu, porque o admitir tal possibilidade seria admitir que Deus possa errar no Seu juízo destinando almas que não deveriam ir para o inferno e que acabaram lá se encontrando, ou o oposto a isto em relação ao céu.
“4 Ouvi outra voz do céu dizer: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas.
5 Porque os seus pecados se acumularam até o céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela.” (Apocalipse 18:4,5).

Não será a boa educação, nem virtudes morais que poderão livrar os homens de tal juízo, senão uma verdadeira santificação operada pelo Espírito Santo. Enganam-se a si mesmos todos aqueles que pensam que estão fazendo um grande favor a Deus por não roubarem, matarem, adulterarem, porque isto é dever de todos os homens, e dizemos que não há nenhum mérito nisto porque pensar que a santidade do Deus Altíssimo, Todo-Poderoso consiste no trapo da justiça humana, é rebaixar, menosprezar o que é realmente esta santidade divina, de modo que isto não deixará de ter a devida paga no juízo.

Por isso é absolutamente essencial investigar, empenhando nisto toda a nossa diligência, qual seja a verdadeira natureza da santificação, para que não sejamos enganados com aquelas coisas que têm uma aparência de santidade, mas que na verdade nada têm a ver com a sua verdadeira natureza. E com isto poderemos estar comprando gato por lebre, e ficarmos satisfeitos com aquilo que não pode produzir a verdadeira satisfação tanto em nossas almas, quanto no coração de Deus. Mas não é apenas uma simples questão de satisfação que está envolvida no assunto da santidade, porque há danos sérios que podem ser experimentados por todos aqueles que estiverem trilhando caminhos falsos e enganosos que nunca nos levarão a achar o lugar onde se encontra esta pérola preciosa da santificação.

E este caminho é conhecido senão pelo próprio Senhor. Eles estão ocultos ao olho natural e à compreensão carnal. Nenhum homem pode pelo seu simples entendimento conhecer e entender a verdadeira natureza da santidade bíblica, e não é de se admirar que esta doutrina da santificação seja menosprezada por muitos como sendo uma fantasia e algo inatingível. Como isto não pode ser conhecido se não for experimentado e vivido, então, voltamos a dizer não é para ficarmos admirados com o fato de existir tanta ignorância quanto à natureza da verdadeira santidade. O humilde e obediente à vontade de Deus chegará a conhecer isto porque Ele dá graça e entendimento aos que se humilham e que Lhe obedecem. Mas o orgulhoso, o que não se negar a si mesmo, o que não tomar a cruz, o que se estriba na sua própria sabedoria e conhecimento, jamais chegará a entender e a viver a verdadeira santidade.

E é aqui que devemos voltar ao texto de 1 Cor 2:11-15, para lembrarmos que coisas espirituais se discernem espiritualmente pela operação do Espírito Santo. Não são então propriamente do domínio do puro e próprio conhecimento racional do homem, mas da esfera da revelação sobrenatural do Espírito Santo.
Não nos admiremos portanto de serem os legalistas, que não se sujeitam ao trabalho da graça pelo Espírito Santo em suas vidas, exatamente aqueles que são os inimigos mais ferozes e implacáveis da verdadeira santidade bíblica, que aponta para o grande peso da graça divina em santificação, conforme provamos pela ilustração gráfica da gangorra onde contrapomos o peso da graça com a responsabilidade humana.
E não é de se admirar também que os próprios crentes de um modo geral, sejam freqüentemente alheios a isto, quanto à apreensão deles da verdadeira natureza da santidade e dos seus efeitos na vida. Geralmente eles se contentam com o trabalho inicial de santificação que ocorreu no dia da sua justificação e regeneração, quando tiveram um encontro pessoal com Cristo, mas não fazem muito progresso em santificação porque isto não somente exigirá deles grande empenho em diligência, como também um completo reconhecimento da dependência da graça de Deus, sujeitando-se efetivamente ao trabalho do Espírito Santo, na transformação e purificação progressiva de todas as áreas de suas vidas, especialmente do coração.
Santificação é uma obra do Espírito de Deus no corpo, alma e espírito do crente, purificando e limpando a natureza dele da poluição e da impureza do pecado, renovando no crente a imagem de Deus, e o habilitando assim, a um princípio espiritual e habitual de graça, para poderem obedecer a Deus, segundo o teor e mandamentos da nova aliança, em virtude da vida e morte de Jesus Cristo.

“ Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro; Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre.” (I Pedro 1.22, 23).

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” (Filip 1.6/ Ef 3.14-17/ I Tes 3.12,13/ II Pe 1.5-7).

Então em santificação progressiva a diligência, a vigilância, a oração, a meditação na Palavra, dentre outras coisas, devem estar se tornando um hábito, de modo que possamos saber que estamos de fato sendo santificados. Onde falta este hábito, o progresso em santificação não pode estar sendo verdadeiramente efetivo, porque ela sempre haverá de conduzir em seus resultados a esta condição habitual de pensarmos e agirmos em conformidade com estes padrões divinos de comportamento que serão corroborados, fortalecidos, no homem interior, a saber, no nosso espírito. (II Cor 7.1/ Ef 4.12/ Hb 13.21/ I Pe 5.10)
Estes hábitos espirituais de fé e de amor, crescem e progridem através do seu exercício. Assim como não se pode aprender a tocar música a não ser pela repetição da aprendizagem até a formação do hábito de tocar, e este exercício deve continuar para a manutenção e o aperfeiçoamento musical, de igual modo a santificação não pode ser operada devidamente sem esta repetição em contínuos exercícios dos deveres ordenados a nós na Palavra de Deus. Eles devem ser aprendidos e exercitados continuamente, se desejamos de fato ser santificados pelo Espírito. (II Tim 3.16, 17)

Alguém indagará: “qual é a importância prática de se conhecer a natureza da santidade?”.

Sabendo que o Deus que é perfeitamente sábio e poderoso, prometeu realizar este trabalho de santificação em todos quantos se dispuserem a obedecer a Sua vontade e confiarem inteiramente nEle para a realização deste trabalho, enquanto vão sendo progressivamente iluminados pelo Espírito a entenderem as coisas que lhes são ordenadas na Bíblia, para colocá-las em prática em suas próprias vidas, especialmente aquelas que dizem respeito à purificação de seus corações de toda impureza e pecados. E conhecendo-se a verdadeira natureza da santidade, não seremos iludidos por aquelas coisas que fingem ser esta santidade bíblica, cristã e que na verdade não são, e que têm iludido e enganado uma grande multidão de pessoas. Nós aprendemos que a santificação depende da nossa diligência em obediência, mas é sobretudo uma obra nova, maravilhosa, sobrenatural, e que é conhecida e realizada através de revelação sobrenatural, procedente de Deus, porque Ele é a fonte de toda verdadeira santidade. É Ele quem pode tornar um coração verdadeiramente puro, e dar paz verdadeira às nossas almas. Remover todo mau temperamento e encher-nos de gozo, amor e alegria espirituais indizíveis que nos levam automaticamente a ter comunhão com todos os nossos irmãos que estejam vivendo a mesma experiência que nós. E é importante saber sobre a natureza da verdadeira santidade biblica, porque é por meio deste conhecimento que podemos entender que uma verdadeira santidade sempre produzirá os bons frutos espirituais esperados por Deus dos Seus filhos. É a santificação quem permite que as nossas boas obras sejam de fato obras da fé. Obras resultantes do poder operante do Espírito Santo em nós. Então se há falta destes frutos, é para se desconfiar do tipo de santificação que temos perseguido. Se ela não conduz à paz, à comunhão, ao amor, e a esta frutificação referida, então é para desconfiarmos, e corrigimos o nosso rumo, através da busca do conhecimento do que seja a verdadeira natureza da santidade, para que não nos enganemos mais em nossos esforços em santificação.

Muitos têm parado na justificação e na regeneração, como já comentamos anteriormente, muitas vezes, por uma má compreensão quanto à aplicação de determinadas passagens bíblicas, que parecem indicar que a justificação e a regeneração são o tudo do propósito de Deus em relação aos crentes, quando isto não é de modo nenhum verdadeiro, porque há muitas outras passagens bíblicas que afirmam a necessidade da santificação progressiva que deve se seguir à regeneração e que deve ser contínua e duradoura por toda a vida.
Por exemplo, quando lemos Rom 4.2-8:
“2 Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus.
3 Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.
4 Ora, ao que trabalha não se lhe conta a recompensa como dádiva, mas sim como dívida;
5 porém ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é contada como justiça;
6 assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus atribui a justiça sem as obras, dizendo:
7 Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
8 Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputará o pecado.” (Rom 4.2-8).
O que muitos concluem destas palavras?

Eles afirmam que não é necessário obras de justiça da parte do crente porque o texto aqui é muito claro e fala a respeito disto. Mas nós perguntamos a estas pessoas: “sobre o que o apóstolo está falando, sobre justificação ou santificação?”. A resposta está no próprio contexto, pois ele afirma que Abraão foi justificado pela fé nos versos 2 e 3. Então ele está falando do modo da justificação que é realmente somente pela fé sem o concurso das obras.
Mas, nesta mesma epístola aos Romanos ele vai falar também sobre o dever da santificação, que é um trabalho diferente da justificação e que deve se seguir a ela, e então aqui ele destaca a necessidade das obras juntamente com a fé e o trabalho da graça, para a santificação:
“12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências;
13 nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
15 Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum.
16 Não sabeis que daquele a quem vos apresentais como servos para lhe obedecer, sois servos desse mesmo a quem obedeceis, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?
17 Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues;
18 e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça.
19 Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniqüidade para iniqüidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação..” (Rom 6.12-19).

Em toda esta passagem ele está falando de santificação e não de justificação, e demonstra claramente que além desta justiça de Cristo que nos foi imputada para justificação, nós precisamos desta justiça que é infundida pelo trabalho progressivo do Espírito Santo, no qual há também o concurso das nossas obras de justiça, sem as quais não haverá nenhum trabalho da graça em santificação, porque esta graça será derramada por Deus conforme a nossa disposição em obedecer a Sua vontade, e que o apóstolo define pela expressão de apresentar nossos membros a Deus para serem usados por Ele para o fim da nossa santificação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário